Quando a ganância supera a decência todo e qualquer valor moral despenca e cai por terra. Todos os princípios são violados e tudo mais passa a ser considerado “efeito colateral” por significar apenas um obstáculo ao objetivo que se pretende atingir.
Não se leva em consideração os outros e o que os cercam, sendo estes considerados meros detalhes na passagem daqueles que têm propósitos lucrativos e não medem esforços para concretizá-los.
Novamente, contabilizamos as perdas de uma tragédia e, infelizmente, este discurso já se tornou lugar comum no cotidiano dos brasileiros de todos os Estados desta Federação.
Descaso e abandono culminam em violências e crimes ambientais. Crianças entregues à própria sorte enveredam tristemente pelo caminho da criminalidade. E a impunidade incentiva atos irresponsáveis, levianamente praticados pelo alto escalão da política e dos negócios.
A catástrofe de Mariana, ainda bem viva na memória nacional, não foi o suficiente como exemplo para que nada parecido voltasse a se repetir, pelo menos não tão cedo. Entretanto, contrariando todas as expectativas e diante de nossas expressões incrédulas, nova enxurrada de rejeitos industriais varreu mais uma região do Estado de Minas Gerais.
Dessa vez, Brumadinho, que integra a Região Metropolitana de Belo Horizonte, chora seus mortos e lamenta outro grande impacto ao seu cenário natural. Esse imensurável desastre socioambiental, que ocorreu na manhã de sexta-feira, 25 de janeiro, provocado pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Vale, pode se tornar ainda maior pois, através dos cursos hídricos, mais 19 municípios de MG podem ser atingidos. Esta previsão quem faz é o Biólogo Renato Ramos, em matéria de ontem, de Leonardo Fernandes, do site de notícias Brasil de Fato. Ramos e o geólogo Sófocles de Assis, “são responsáveis por estudo das consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, e por isso puderam elaborar rapidamente um prospecto do impacto dessa nova tragédia” – diz Leonardo.
Todavia, será que isso tudo pode ser considerado uma fatalidade? Com certeza, não! Em matéria publicada também no Brasil de Fato, de 11 de Dezembro de 2018, por Rafaella Dotta, lemos que os moradores há 10 anos lutam contra o crescimento da exploração mineral no local através da ONG Movimento das Águas de Casa Branca, sendo Casa Branca uma distrito de Brumadinho. Esta organização já empreendeu inúmeros esforços para deter o avanço da mineração e proteger o “Parque Estadual da Serra do Rola Moça, que está situado entre as cidades de Belo Horizonte, Nova Lima, Ibirité e Brumadinho, em uma área de 4 mil hectares de matas. Ele foi criado pelo governador Hélio Garcia através do decreto 36.071, em 1994, visando a proteção dos cursos d’água Taboão, Rola-Moça, Barreirinho, Barreiro, Mutuca e Catarina” – escreveu Rafaella Dotta.
Em vão participaram de audiências públicas, realizaram eventos e promoveram um abaixo-assinado com 82 mil assinaturas. O resultado, conhecemos na sexta-feira passada.
Até quando assistiremos passivamente a tudo isto? Deixo, pra finalizar, esta pergunta no ar.