Amargo Degredo

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Abster-se voluntária ou involuntariamente da cidade natal só não é pior que o desterro da própria pátria. E muitas vezes, no ato voluntário existe também um pouco de compulsório, pois que a decisão de empreender uma mudança tão dolorosa resulta de motivos de força maior, alheio à nossa sincera vontade.
Por mais que a acolhida em novo sítio tenha-nos sido mui amável resta, no fundo da alma, grande melancolia pela terra-mãe perdida.
O fato é que aquele que se expatria tem o nítido sentimento de ser um eterno estrangeiro em terras às quais nunca pertencerá.
Possuirá, com certeza, nesse novo local, uma casa, contudo sentirá como se a sua verdadeira residência tivesse ficado para trás e a ela não mais poderá retornar.
Um vazio habitará o seu peito e não será preenchido por nada mais, haja vista que é espaço exclusivo do berço da sua existência.
Tenho esta lacuna por dentro há mais de vinte anos, quando deixei para trás, desvanescendo-se na distância, a minha querida cidade, mais que maravilhosa, que a todos encanta: o Rio entre todos os rios. O Rio que, como eu, nasceu em janeiro. O Rio de todos os meses, de todas todas as faces, de todos os gostos e personalidades, porque a todos abriga, com as asas da cidade cosmopolita que é. Por isso, recebe-me sempre, em meus constantes retornos, de braços abertos, através do seu mais ilustre anfitrião: o Nosso Senhor, Cristo Redentor, que tão paternalmente acolhe tanto a mim quanto aos demais.
Mas não se sacia, em tão breves visitas, a carência que comigo carrego, do colo da minha querida cidade-mãe.
E algo desconfortável acontece com aquele que não mais pertence ao seu lugar de nascimento, uma vez que com ele não compartilha do seu cotidiano, dos deveres cívicos municipais, que agora tem com a outra cidade: é que passamos a não pertencer à cidade que deixamos e ainda não nos sentimos pertencentes àquela que nos acolheu. Portanto, nos tornamos uns desprovidos de pátria, por um certo tempo ou de modo permanente, o que acontece com aquele que nunca mais supera, correndo o risco do exagero, a dor do exílio.
O que entendo e deixo como sugestão a todos que, como eu, sentem-se estrangeiros em terra alheia, é que devemos procurar um renascimento nesse lugar que nos abraçou como novos cidadãos.
É participar, ativa e efetivamente, das atividades sociais e políticas locais, para que deixemos a nossa marca e nos tornemos importantes para a sociedade local.
Coloque-se inteiro nesses projetos e faça a diferença nesse novo município.
Você perceberá uma sensação de pertencinento àquela região que você está ajudando a construir e a modificar.
Desejo a vocês que, tanto quanto eu, estão apartados de suas terras de origem, que a cidade que escolheram para morar os abrace calorosamente e que voces devolvam-lhe o seu carinho presenteando-a com trabalho em prol do bem-estar geral.
Espero que você renasça plenamente!