Pesquisador faz registros de aves marinhas durante folga do trabalho, enquanto está embarcado
Contemplar a imensidão do céu, a quilômetros da costa fluminense, é muito mais do que um prazeroso passatempo para o estudante do curso de Gestão Ambiental, Rodrigo Canejo. O jovem, que concilia seus estudos na modalidade de Educação a Distância, oferecido pela Universidade Veiga de Almeida (UVA) com o trabalho em uma plataforma de petróleo, aproveita o tempo de folga para fazer registro fotográfico de aves que interagem com o oceano, especialmente em busca de exemplares de albatrozes e petreis. A maior surpresa foi avistar um bando com seis albatrozes de nariz amarelo, espécie ameaçada, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Os registros integram o primeiro projeto de iniciação científica do curso a distância, que tem como objetivo identificar a “Interação de aves com a atividade offshore e a pesca na zona oceânica do litoral norte do estado do Rio de Janeiro”. “Ao longo da pesquisa, percebi a quantidade de interações que as aves realizam com outros ecossistemas e a própria plataforma de petróleo”, destaca, acrescentado que ficou muito emocionado ao fazer o registro do bando de albatrozes, pois as aves raramente são avistadas no litoral do Rio de Janeiro. Além dos registros, a iniciativa de Rodrigo serve como educação ambiental, pois conta com colegas receptivos e colaborativos, que passaram a compreender que o compromisso de preservação das aves engloba a importância dos dados coletados. “Conforme adquirimos novos conhecimentos, mudamos nossas concepções, podendo realizar escolhas diferentes e, consequentemente, visar à preservação dos seres a nossa volta”, enfatiza.
Rodrigo também ressalta os benefícios da pesquisa científica para sua formação profissional. “Contribuiu bastante para desenvolver novas metodologias de trabalho, fazendo com que novas habilidades aparecessem e outras fossem moldadas”, diz, citando que está sendo valoroso contribuir com dados científicos, sem contar que apreciar as aves acabou se tornando um novo hobby. O Projeto de Iniciação Científica (PIC-UVA) gera dados para a base fluminense do Projeto Albatroz, instalada no campus Cabo Frio. A pesquisa conta com a orientação do professor Eduardo Pimenta, coordenador do curso de Gestão Ambiental, e do biólogo Caio Azevedo Marques, do Projeto Albatroz.
O professor Pimenta lembra que na última década o Grupo de Estudos da Pesca (GEPesca), da Universidade Veiga de Almeida, em Cabo Frio, tem contribuído em âmbito internacional com a coleta de dados primários, análise e interpretação, que acabam subsidiando políticas públicas de proteção às espécies ameaçadas, entre elas, os peixes de bico e albatrozes. “Essas iniciativas vão de encontro com a missão da Universidade, de propor e desenvolver soluções para a coletividade onde está inserida”, enfatiza Pimenta.
Internacional
O GEPesca desenvolve pesquisas regulares nas áreas de macro ergonomia e antropotecnologia, na busca da adaptação da tecnologia à produção em termos culturais, sociais, econômicos, geográficos e organizacionais sobre o universo da pesca e do pescador. Professor Pimenta explica que as pesquisas utilizam uma metodologia participativa, considerado o potencial e as limitações dos ecossistemas e das pessoas envolvidas, não os tratando isoladamente, mas sim de forma holística. O Grupo também monitora a frota pesqueira extrativista que parte de Cabo Frio, formada por cerca de 350 embarcações de até 20 metros.
O GEPesca integra, ainda, a estrutura do Subcomitê Científico do Comitê Consultivo Permanente de Gestão sobre Atuns e Afins do Ministério da Pesca e Aquicultura, responsável pelo aporte de dados estatístico da pesca brasileira na Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico. Pimenta explica que estes estudos são fundamentais para a adoção de medidas de ordenamento e conservação necessárias para a manutenção dos estoques em níveis compatíveis com o rendimento máximo sustentável.
No próximo ano, a Universidade fará parte de um grupo de esforço cooperativo formado por instituições do Brasil, Uruguai, França e EUA para realizar a marcação de atuns tropicais no sudoeste do Oceano Atlântico. A demanda faz parte de um programa da ICCAT (Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico) e tem como objetivo garantir a gestão sustentável dos estoques pesqueiros, contribuindo para a segurança alimentar e desenvolvimento econômico das regiões costeiras. No Rio, serão realizados cruzeiros de pesquisa para lançar duas mil marcas convencionais e oito eletrônicas. Serão marcados exemplares de bigeye (Thunnus obesus), yellowfin (Thunnus albacares) e skipjack (Katsuwonus pelamis). A meta do esforço é atingir 13 mil exemplares de atuns e espécies afins na costa brasileira, com etiquetas convencionais e eletrônicas.