“…querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!…” (CAMINHA, PERO VAZ, CARTA 1500)

Foto Dalva Mansur

 

“Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!” Caminha, PV, 1500)

 

Tudo aqui era farto, a floresta, a água, os animais, a saúde dos habitantes da terra, a beleza e pureza de cada um que nem roupa usava, mas vergonha não tinha.

Foi essa imagem de fartura e inocência, que nos fez considerar, que a terra recém-descoberta era em muito comparada ao paraíso! Mais tarde na excursão pela costa em 1503, Américo Vespúcio, vai fazer esta descrição, depois na carta da mata atlântica, Jose de Anchieta em 1560 volta a falar da pujança da terra, e em 1565, Alexandre Vasconcelos, como visitador da Companhia de Jesus, faz também belas descrições de nosso país.

Foi a sensação de fartura que nos destruiu, fazendo-nos pensar que a água não acabaria, as matas estariam ali para sempre, ou poderiam ser derrubadas, porque ainda haviam muitas outras matas, a caça era muita e poderia alimentar a todos. Daí, descobrimos que muito era o ouro que encontramos nos rios e vales de minas gerais, muitos eram os diamantes que apareciam nas areias das estradas de minas, as esmeraldas, estas demoraram a aparecer, mas também são de grande quantidade! Muito foi o pau-brasil, que fez a fortuna dos brasileiros (nome dado aos negociantes de pau-brasil), mas tivemos ainda também muito o sal, o café, as conchas, a pratas, o cobre, o alumínio, o ferro, e até o petróleo.

Sempre muito, mas muito menor do que a cobiça, o imediatismo, a falta de planejamento e a falta de interesse em estudar, e em criar um futuro.

O Brasil pais do futuro, e como o futuro não é hoje á para os descendentes, vamos deixar que eles resolvam o que fazer no futuro!!

Mas esse futuro chegou e hoje estamos assim:

As matas estão acabando, e não diga que tem gente reflorestando, tem sim, mas reflorestar é muito pouco em relação ao que estão derrubando.

Como consequência os rios estão desaparecendo. e com eles os peixes, e os animais que bebiam na beira dos rios… Ah! Estes foram caçados para serem vendidos para colecionadores. Com as águas mais baixas, abriram-se poços artesianos, ligaram-se rios a outros rios, fizeram-se canais e mais canais, tudo para levar a água até as cidades e aos campos com agricultura. Estes, aliás, vão muito bem, e dizem que com soja e milho transgênico, vão alimentar o mundo. Só não alimentam os brasileiros que morrem de fome nas cidades sem emprego e sem futuro.

Eu, Dalva, Ambientalista, Professora, representante de organização não governamental. sinto que falo como os antigos profetas…

– Vai faltar água para todo mundo! E ninguém me houve.

– Não pode mais derrubar florestas! E riem de mim.

– Precisa reflorestar! E ninguém me dá ouvidos.

Porque importante para a maioria é defender o lugar do deputado ladrão! ou defender aquele político que garantiu um empreguinho com salário dividido para alguém.

Importante é extrair petróleo para aumentar o efeito estufa, e alimentar a indústria que não aceita mudar sua operação baseada no óleo e seus derivados.

-Vai faltar energia!!! Ah não agora é o sol que temos em grande quantidade e vai garantir energia para todos. Tudo é muito, tudo é infinito neste país continental, mas maior que tudo é a cobiça, que usa dos recursos sem pensar no amanha, no futuro e no agora deste lugar chamado Brasil.