Conversando, recentemente, com uma prima muito querida, a certa altura da conversa, ela se queixou de uma atitude grosseira de que foi vítima, numa fila de caixa de farmácia. Simplesmente foi atropelada por uma senhora, que queria alcançar determinada mercadoria, sem que houvesse um pedido de desculpas. Quando a raiva interior vira uma “metralhadora giratória” e atinge a qualquer pessoa ao seu redor, é preocupante. Não é um caso específico contra algo ou alguém que te causa dano. Não. É raiva generalizada. Para quem foi criada de forma a preocupar-se com quem está à sua volta, ela ficou espantada. Parece que os trogloditas estão voltando!
A humanidade tem liberado, eventualmente, o animal que traz dentro de si, desde os primórdios. Estamos nos revertendo ao protótipo do ser humano, ao rascunho mal feito do homem e voltando às nossas origens primitivas. É a fera acuada dentro de nós querendo sair e, para isso, morde e arranha séculos de verniz social.
Confesso que, em dados momentos, a onça, nem tão mansa, que habita as profundezas do meu espírito, botas as garras para fora e mostra os dentes. Mas em minha defesa tenho a dizer que o meu ponto de ebulição é relativamente alto. Não fervo com tanta facilidade. O motivo tem que ser muito forte, algo que me deixe bem indignada, para o meu pavio, que não é curto, queimar por completo.
Ultimamente, tenho pensado muito sobre o assunto e concluí que, mesmo pessoas pacatas, mansas de espírito, sensatas de coração, têm o seu limite de tolerância.
Eu aconselho, a quem quer que seja, a evitar contrariar quem já está no seu limite de explodir. As pessoas emitem sinais e é demonstração de inteligência emocional percebê-los. Se você está ainda no controle das suas emoções, procure ser a parte sensata da relação, pois, lembrando um antigo ditado, não há briga quando uma das partes se mantém impassível. A onda se quebra de encontro a uma vontade férrea no controle do desatino. Aí o desentendimento não se propaga e a onda morre na praia.
Mas essa minha preocupação está mais voltada para casos graves de descontrole emocional, que chegam às vias de fato ou culminam em tragédias de morte. Por vezes, observamos cenas que bem poderiam, num longo retrocesso no tempo, terem se passado num cenário pré-histórico, com personagens neandertais empunhando seus tacapes ou clavas.
As pessoas circulam pela cidade com os nervos à flor da pele e não precisam de muito para entrar em erupção. Por motivos banais, bondosos chefes de família e pacatas donas de casa transformam-se em animais enfurecidos. E um dos ambientes mais propícios para essas ocorrências é o louco trânsito de veículos e pedestres, pelas cidades, no dia-a-dia. Cenas lamentáveis como bate-bocas acontecem todos os dias. Porém, podem ir mais longe, chegando a graves lesões ou até a assassinatos.
E não só no trânsito observamos esses tristes episódios e, lamentavelmente, nem só com adultos. Outros lugares que servem de palco para embates corporais são algumas escolas públicas onde alunos adolescentes, dentro ou fora da escola, brigam entre si ou, o que é pior, desrespeitam até os professores, que chegam a ser agredidos. Eu que vivi minha fase escolar em tempos bem diferentes, fico abismada com o tratamento que recebe aquele que é a base de qualquer carreira e, por isso mereceria um mínimo de respeito: o professor!
E a questão das agressões e do desrespeito segue em uma infinidade de situações que não cabem nesta simples matéria, mas que precisam ser revistas, reavaliadas e suas causas identificadas. E em se tratando de causas o que identifico é que tudo isso é fruto de uma sociedade doente.
Disse na última matéria e repito: precisamos nos repensar como seres humanos. E para começar, avaliemos nossas condutas e reflitamos se estamos nos conduzindo por um bom caminho. Se a resposta for “não”, devemos mudar o rumo de nossas vidas para uma direção melhor! Não tenha preguiça, a vida é trabalho! Não tenha dúvidas, a vida exige mudanças para crescermos! Não tenha medo, pois fazer o que é certo nos dá coragem!
Desejo a todos que trabalhem suas mudanças e domestiquem suas feras interiores!
E para concluir deixo, para reflexão, uma frase, muito conhecida dos cariocas e, por conta do prestígio do seu autor, o Profeta Gentileza, creio que conhecida em todo Brasil: “Gentileza gera gentileza”!