AS FÉRIAS ERAM ASSIM!!

É difícil iniciar essa história, não sei se falo das férias dos meus filhos, ou das férias agora com meu neto menor, mas a diferença é muita.

Quando meus filhos eram pequenos férias ou feriados eram sinônimos de viagem pelo Brasil, isso era década de sessenta ou setenta, quando as crianças ainda eram levadas pelos pais, sim porque na adolescência, eles começam a escolher seus roteiros e cabe a nós acompanhá-los.

Tínhamos muitas opções, o sítio em Várzea das Moças, a casa de um amigo em Angra dos Reis, a fazenda de outro amigo em Minas Gerais, a visita a parentes distantes em Salvador, o apartamento em Teresópolis, cruzar minas ou Espírito Santo, ou mesmo o Rio de Janeiro, eram roteiros que fazíamos com tranquilidade, e segurança. Havia muitos lugares a ir, e muitas experiências a realizar.

Não tínhamos medo de roubos, ou assaltos, a polícia rodoviária estava no seu lugar para garantir a ordem. Não havia lei seca nem bafômetros, e ninguém dirigia bêbado, as cidades eram limpas, e as praias também.

VOCÊ PODIA deixar sua bolsa na barraca na praia, virava pro vizinho de barraca e pedia para olhar!! Olhar para quê? E quando voltava a bolsa estava lá com seus pertences e seu dinheiro.

E voltando as viagens das férias, passeávamos com tranquilidade por este país, e as crianças voltavam cheias de novas novidades para contar aos colegas.

Este ano, resolvi levar meu neto para andar trem a vapor, em Campinas.

Primeiro tive que ver a logística: o trem partia às nove e meia da manhã de sábado, e então tínhamos que estar em campinas, muito cedo, como a viagem de ônibus de madrugada se tornou perigosa, optei por ir de avião, e como o avião então teria que estas às cinco e meia no Santos Dumont, para embarcar as seis, e chegar lá com folga antes do trem sair. Aí a logística complicou.

O que fazer? Sair daqui às três da manhã correndo o risco de ser assaltada na estrada? Nunca!

Dormir no Rio na casa do meu filho em Botafogo? Mas como sair de Botafogo às cinco da manhã de taxi para o aeroporto? Poderia ser assaltada também.

Só havia uma hipótese: viajar cedo no dia anterior e dormir no hotel no aeroporto, assim, pela manhã às cinco e meia, apenas cinquenta passos me separavam da portaria do hotel para o balcão da companhia aérea!

Bingo!!!

Tudo para não arriscar meu neto a passar por uma situação desagradável.

Ao chegar lá, falando com outros hóspedes, qual não foi a minha surpresa, quando vi que inúmeras pessoas também optaram pelo mesmo hotel, porque chegaram de madrugada, ou porque iam viajar de madrugada?

Isso se chama medo!

Medo é o que sentimos quando nossa segurança está em risco, quando tememos perder algo, ou sentir alguma dor. Medo é o sentimento de todos, de um povo que até domingo, saia de casa sem saber se ia voltar ou não.

Medo de dirigir à noite nas estradas, medo de atender o celular na rua, medo de abrir a porta sem olhar pela câmera de segurança, medo do outro, medo da saidinha de banco, do sequestro relâmpago, da bala perdida, enfim, medo de quase tudo.

Tenho amigos, que moram na zona sul do Rio de Janeiro e não saíram de casa no carnaval com medo de arrastões.

Então Aqueles verões, em que eu e minha família, nos divertíamos por ai, viajando e descobrindo o Brasil, foram as oportunidades únicas, de um país saudável e organizado que desapareceram.

Momentos que só a democracia nos proporciona. E democracia começa exatamente pelo direito de ir e vir, depois vem com o acesso aos bens comuns, que pode ser a boa escola pública (que tínhamos) ou o bom atendimento médico do sistema público de saúde.

Democracia, onde havia trabalho, crédito, e investimentos.

Democracia, que parece, não agradava a todos, principalmente aqueles que adoram fazer xixi na rua, dirigir embriagado, fumar um baseado, ou comprar um celular baratinho sem recibo.

Democracia, que acha que pode falar o que quiser, sem respeitar os outros, bater em qualquer pessoa, tocar um som ensurdecedor, ou quebrar um estádio de futebol.

Hoje me senti bem quando fui ao Rio de Janeiro, não vi aquelas caras estranhas que se veem no meio da rua, não vi motos velhas dirigidas, por alguém de sandálias com os pés pendurados nos pedais, flanelinhas com sustâncias estranhas nos sinais. Parecia que o perigo saiu das ruas, parecia que todos os seres ameaçadores haviam saído do centro do Rio de Janeiro.

Ao invés disso, vi carros da policia rodoviária federal, da policia rodoviária estadual, da policia militar, da guarda municipal, parados em pontos estratégicos, ou rodando junto com o trânsito. tudo isso acontecendo, porque uma instituição com credibilidade como o Exército Brasileiro, veio ocupar o espaço que os desmandos dos governantes deste estado permitiram que fosse ocupado por perturbadores da ordem, que vendo a janela quebrada, resolveram depredar o estado inteiro.