Repensando Conceitos

Em “Uma Carta Aberta ao Brasil”, um estrangeiro, casado com uma brasileira e vivendo no nosso país há quatro anos, pediu desculpas aos brasileiros e licença para falar, com sinceridade, o que, na sua opinião, constitui o problema desta nação. Sem nenhuma cerimônia e assumindo ares daquele amigo que, querendo ajudar, nos brinda com a verdade nua e crua, sacramentou que o problema do Brasil é o povo brasileiro! Embora, no seu entender, faça parte da cultura nacional, o comportamento dos cidadãos, que estaria prejudicando o nosso desenvolvimento em todos os níveis.

Para corroborar esse seu comentário polêmico ele se utilizou de um exemplo em que um indivíduo qualquer, testemunhando a ação errada de um amigo, prefere apoiá-lo, escondendo a verdade, do que orientá-lo a agir de forma correta, corrigindo o seu erro.

Na sua opinião, brasileiros tendem a defender parentes e amigos, mesmo errados, em detrimento do resto de sociedade.

Segundo o autor, cidadãos de outras nacionalidades, principalmente de países europeus, tendem a priorizar a sociedade como um todo e não a beneficiar pessoas em particular, sejam elas quem forem. Ele analisa esse nosso comportamento e, colocando-se no lugar de um nativo, explica que, no nosso entender, nos vemos como um povo solidário, porém com tendências a proteger, especificamente, pessoas do nosso círculo familiar e social, mesmo nas ações erradas. No entender de um cidadão do primeiro mundo, estaríamos agindo com egoísmo.

Esse nosso “way of life” é aquele também em que não dispensamos uma boa oportunidade de “levar” uma vantagem. Só que não paramos para refletir que essa vantagem pode trazer prejuízo para nossos concidadãos. Não pensamos no próximo.

Isso tudo me fez recordar a história que ouvi numa ocasião, contada por um cidadão brasileiro, que se mudou para a Suécia, para trabalhar em uma empresa local. Como era recente a sua mudança, por necessidade, era transportado por um colega sueco, até a empresa, todos os dias. No primeiro dia, chegaram bem cedo ao estacionamento, que se encontrava vazio. Como seria normal para nós, o brasileiro esperava que o colega estacionasse no melhor lugar, mais perto da entrada. Qual não foi sua surpresa, quando o rapaz estacionou o mais longe possível. Ele pensou que poderia ser um lugar marcado, mas não perguntou nada, pois, sendo o primeiro dia, não eram íntimos. O comportamento do colega de trabalho se repetiu por vários dias até que, já com uma certa intimidade, nosso patrício perguntou ao amigo por que parar tão longe, se eles sempre eram os primeiros a chegar. Ele, então, respondeu, deixando estarrecido o nosso compatriota, que se chegavam cedo, tinham tempo de caminhar até a porta. Desse modo, quem se atrasasse, ao chegar, poderia estacionar mais perto, e não precisaria percorrer um longo caminho até a entrada. Alguém imagina um comportamento desses aqui no Brasil? Eu creio que, talvez, em raras exceções.

Não é difícil imaginar o porquê dos nossos políticos fazerem o que fazem. Todos pensam em si e nos seus, ficando, a maioria da população, entregues à própria sorte.

Caros leitores, vocês entendem a urgente necessidade de revermos nossos conceitos, com vistas a tentarmos promover uma mudança profunda no nosso íntimo, alterando nosso comportamento?

Mudanças são difíceis e, por esse motivo, não penso que tudo pode ser modificado em curto espaço de tempo. Mas existe uma imperativa necessidade de iniciarmos uma profunda reformulação interior, no sentido de melhorarmos como seres humanos! Só assim, creio, poderemos modificar a situação em que se encontra este nosso país.

Peço que, de agora em diante, reflitam sobre o assunto e exercitem a cidadania, para que vislumbremos, no horizonte, uma sociedade melhor.